20050509

Neste rodopio quente que me arrasta.
Observo, da redoma que me suga o ar que respiro.
Espreito numa timidez lacerante, algo pérfido.
Falar será mais uma vez a vontade que me aperta,
no momento áureo.
Algo pérfido, neste rodopio quente que me arrasta.
Quente, leve, seguro. Seguro eu esta redoma que me impôs os segredos, alastram-se num código que me espreita. Falo trépida e incapaz.
Quase tão suave como o vento.
Era um canto afinal. Sou eu amarela parda fria.
Caída aos vendavais, a voar no sopro de um vulcão.
Serei eu violeta parda fria, capaz de imaginar o que de real acontece no íntimo do silêncio.
Uma sala vazia. Uma arca vazia.
Um baú vazio aberto. Numa timidez lacerante espreito.
Falo consoante o ar que me preenche a fala.
Descrevo o sonho pela forma de ar. Espalha segredos.
Ardente ar. Forma estranha de paixão.
O amor é mais um algo que me aperta a morte.
Perdição sangrenta que eleva a redoma ao infinito.
Visito-o quando o sonho venda o tempo e o resto parece esquecer.
Estranha forma de paixão, neste quente rodopio que me arrasta.
O silêncio espalha o desejo. Trémulo e incapaz.
Num mundo onde não se conhecem objectivos concretos.
Num mundo onde o amor versa seu nome de soslaio,
ao encosto do ouvido. Onde tudo o que parece existir
já aconteceu,
o mais que não seja, no espaço virtual de um pensamento
que esvoaçou, sabe-se lá onde.
Tal qual meu pensamento agora…
Encandeio-me.
Paixão…
Desfaleço perante suculenta aberração.
O meu sonho é um puzzle desencontrado.
O meu corpo é um tapete voador.
Neste rodopio quente que me arrasta, encerro em mim a totalidade.
…aumento e diminuo de tamanho, preencho o espaço,
Frio, insólito, ar comprimido que vasculha…
Sou eu assim agora gélida,
Empalideço ao mais ínfimo suor,
Descaio fina e segura no meu tufão azul.
Lassidão acorrentada. Era um canto.
Fome.
Terra doente.
Paisagens.
Encantador escombro. Emblemática persuasão.
O ar que expiro espalha-me nos escombros
Núcleo a núcleo, célula a célula.
Até me preencher no seu encanto…
Sou assim arrastada neste rodopio quente.

20050409

Flutua, parda ausência
como se estivera a viajar.
Lá onde se confundem mágoas e perdões,
ONDE SE ACENTUAM
Perdem-se.
Por mais o que esteja a ser no que fora e sempre estivera a vencer e a provocante sensação extenuante no impróprio vínculo doirado. Por entre as brumas pardas e sistematicamente endoculturais, soberbas, elas mancham a externa beatitude de um perdão que não conhece o dono. Mais do que paralelamente recaído surge e eis as dialogantes extinguidas trocas do sumo virginal. Do que foram tréguas ladeiras e sonantes as trépidas horas escasseiam seu oculto paladar, por entre as palmas esbatidas, desfaz-se no tremelitante, redornado de outros tantos. Por entre a sua veia distraída somam-se as entregas multifacetadas e assim sendo as sondas pálidas e flácidas que os canais adornam de espectacularmente facial aterrorizado.
Eis que a contemplação é uma rédea solta e particularmente reduzida ao fino contacto verde da paz. Por entre mais ainda cinzelam-se argaínas e por aí, onde o sopro habita num sossego imparcialmente eficaz, lança do seu ventre a grandiosidade do seu funcionamento. Como se fora a 1ª vez encharca a melodia castanha num só extracto do gesto miraculosamente conseguido. Gatinham-se e por mais letras e atacados singelam-se à sua contemplação, do que inexplicavelmente recai para seu lado sem hesitar.
Porque a sombra é de uma parte feita numa só experiência e aniquila o espécimen gratulado de consequências nefastas e peculiarmente vítimas de desonra.
Nunca estamos sós.

20050309

É bom fumar. E é bom não fumar.
Da última vez que a vi estava normal.
Ah, tu não estavas cá!
Fumar é falar com o fumo.
Tu tentas ser uma pessoa desagradável porque és agradável.
Ficas com um rosto mais expressivo sem aquele cabelo todo.
O amor é um gajo estranho. Não tem coração; o amor passa os dias ao espelho.
Eu sou apenas uma mentira, mas podes fazer de mim uma canção.
Retrata uma relação que não é uma relação normal. Entre dois homens, que pode ser entre um homem e uma mulher.
Sexo interesseiro.
Se bem que os corpos fazem parte.
A máquina transporta o espírito.
A carapaça?
Olha quem está aí atrás de ti!
A hipótese de ir amanhã à aula de pintura…
Só vejo o meu pai e a minha mãe. Tive 40 de febre.
Não queres puxar uma cadeira?
What have you done?
Nostálgico…
Tive uns dias tão estúpidos!
E a mamã, está boa?
Não. Não é essas curtes.
Vais andar com isso? Nem pareces um homem!
Não faço o que não me apetece.
Não sentistes os flashes? É a moina. Estamos a ser gravados.
Podes deixar as minhas meias e as minhas cuecas na maçaneta da minha porta.
Mas quando vestir o meu casaquinho lavadinho ninguém dirá que as minhas cuecas e as minhas meias são da semana passada. E toda a gente dirá: “mas que lindo casaco.”
No futuro ninguém se rirá de mim.
Fez-me lembrar uma pintura de M. Ângelo em que o Senhor dá a vida a Adão.
Pelo menos se for igual à cabeça.
Já ao tempo que não tinha um cachecol na minha mão. Muito menos na minha cabeça.
A vossa capacidade de amar é a minha levitação. E ao mesmo tempo um grito de desespero.
O canto da aranha müller. Mas porém os lobos vivem e esgadanham-se na terra e não sabem porque o fazem. São apenas lobos. E se Deus não os tivesse feito, quem os faria?
Se eu não tivesse pés era deficiente. Porém não consigo sentir bem o chão.
Metes-te na guerra!... olha!
Mas isto não vai desaparecer. Eu estou a abrir a minha. Mostramos a cabeça dele. Alguém nos mostrou.
É fixe ficar doente! Os deuses não se perdem. Os deuses medem-se aos palmos. Nem os homens.
Vi um sofá em vossa casa, altamente! Nem é uma coisa nem uma pessoa. Perante as nossas mentes, não é.
Agora é que dás valor.
É verdade.
Se estiveres a passar para o outro lado do espelho.
Sempre assim. Só olhava para a minha boca.
Só há uma maneira para passar para o outro lado do espelho, é encontrando o espelho.
Sei que estou viva porque acordo todos os dias de manhã. O meu amor me mantém viva.
São mais as rugas.
Fica-te mesmo bem. Ele foi mesmo feito para mim. Nem tudo.
Acho que o meu cérebro me fica bem na minha cabeça.
Onde andará ele?
Procura-o onde o deixaste.
Mais um que é para aquecer o espírito!
Vieste.
E para o qual não voltaste.
Se assim o entenderes assim o hás-de fumar.


Frases soltas de uma conversa entre os amigos no café Luso-Porto (1996)